segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A PSICANÁLISE CELEBRA O NATAL




O mundo cristão acredita que o nascimento de Jesus ocorreu com o propósito de realinhar a trajetória humana ao plano de Deus, de criar uma família terrenal capaz de compartilhar o "amai-vos uns outros", instruído pelo Menino que encarnou os sacrifícios extremos do amor como forma de validar o próprio discurso (quem quiser saber mais sobre o amor, leia, neste blog, o artigo "A-mor", na raiz, não "dá galho").

Que razões teriam levado o jovem Messias a fundar sua plataforma transformacional na ideia do amor? Uma dessas razões, talvez, seja a pluralidade do gênero humano de se inventar e de se expressar, de perceber a si mesmo e o outro, de particularizar o que pensa e mudar o próprio jeito de pensar, de negar o que sente e até simular o que não sente, de fazer o que faz e não fazer o que deveria fazer. Diante de tantas especificidades, a convivência humana tornou-se uma competência ainda em fase de testes e de muitas reprovações. O resultado de tudo isso é um amadorismo nas relações sociais e um círculo vicioso e, às vezes, viciante de frustrações, sofrimentos, perda de sentido de continuar vivendo e, em determinados casos, de exaustão.

Na contramão da história humana, os ditames crísticos do amor imprimem um roteiro que protagoniza a felicidade de homens e mulheres; a preservação das multifacetárias formas de vida; a imanência consciente e a transcendência desejada; a paz  que emana da alma e a alegria que transformam o cotidiano numa imensa celebração. Vendo Jesus que mão e contramão jamais se cruzam, resolveu mudar de faixa e de sentido e trafegar ao lado dos desorientados, ou dos deliberadamente atormentados por escolhas de rotas perigosas, e bradar o apelo de maior compaixão - "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei". Demonstrando, ainda, as transformações radicais na vida de todos nós, o Nazareno alertou: "Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo". Com esses posicionamentos, o Menino Jesus condicionou o Natal a um convívio fraternal e de mutualidade nas formas de amparo.

E, agora, será que podemos encontrar alguma semelhança entre a Psicanálise e o Natal de Jesus Cristo? A quem você recorreria se fosse tomado por um grande desespero e se sentisse levado a amenizar seu sofrimento por meio do suicídio? Dentre as opções que você imaginar, uma delas, e muito eficaz, é o acolhimento oferecido por um profissional de psicanálise. Frequentemente, recebemos em nosso consultório pessoas em busca de terapia de casais, porque querem manter seu casamento e não conseguem mais dialogar. Atendemos adolescentes que preferem morrer a continuar suportando o ambiente insalubre do lar. Em situações igualmente traumáticas, contabilizamos consciências queimando por culpas que só existem na crença de suas vítimas. Incluímos, ainda, o segmento de pacientes imobilizados pela incapacidade de tomar decisões e dar um novo significado à sua existência.

Nossa rotina de psicanalista incorpora esforços concentrados no tratamento de pessoas que chegam completamente FRAGMENTADAS, movidas pela esperança de serem recompostas, reintegradas, à semelhança de um vaso precioso e único que se quebra em pedaços e necessita de urgente restauração - "Não desista de mim", apelam uns; "Tenho certeza de que aqui terei ajuda para resolver os meus problemas", acreditam outros. Há até quem diga: "O senhor precisa ter muita saúde para poder cuidar de nós". Lembro de uma mensagem recebida de uma paciente, muito querida, logo após haver superado os impactos de meu primeiro enfarto, na qual comparou a atuação do psicoterapeuta às atitudes amorosos de Jesus, que destinou, prioritariamente, o seu tempo aos encurvados pela fadiga de suas dores.

Independentemente do credo professado pelo psicanalista, o nosso modus operandi guarda estreita semelhança com o jeito de atuar do Nosso Aniversariante. Tornamo-nos ainda mais parecidos como Ele na medida em que conseguimos amar cada paciente que confia em nossas competências profissionais, éticas e humanas. E, ainda, enxergarmos nossos pacientes não como doentes, mas como pessoas momentaneamente adoecidas, que tiveram coragem de vencer todos os limites em busca de alguém que escuta sem censurar, que ama sem conhecer e faz do otimismo o caminho mais curto entre a dor e a felicidade.




Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


Email: ramos.talentos@gmail.com
Av. Santos Dumont, 847 - Sala 303 – Aldeota
Fortaleza - Ceará - Brasil

sábado, 7 de novembro de 2015

VIDA HUMANA - CONSTRUIR OU RECONSTRUÍ-LA?



Antes de exercer a Psicanálise, dificilmente teria a percepção da abordagem que fundamentará este artigo. Mas, a escuta recorrente de relatos de diversos pacientes foi revelando que o ser humano, desde a temporada intra uterina, começa a receber estímulos constitutivos de seu psiquismo - saudáveis ou comprometedores das bases que deveriam dar suporte ao desenvolvimento do novo ser.

Do universo de pacientes maiores de sessenta anos, destaco relatos de determinado paciente que costumava ouvir, repetidamente, ainda na adolescência, de um parente próximo que não teria capacidade sequer de se autossustentar. Esse simulacro de profecia concretizou-se. Ao longo de sua vida, o paciente jamais compreendeu porque fora infeliz como marido, frustrado como pai e incapaz de aceitar os vários convites para liderar equipes de trabalho. Desse parente, que tanto o depreciava, ele assimilou alguns vícios, certas doenças e até o jeito inseguro de trabalhar. "Foi muito tempo perdido na minha vida", lamenta-se.

As profecias sinistras agem em forma de crença e afetam suas vítimas independentemente da idade. Entre pacientes jovens, os prejuízos emocionais equiparam-se aos danos causados aos do segmento mais maduro. Se esses sofrimentos provocados pelas relações desvalorizantes  não forem competentemente analisados e tratados, no futuro, os ex-jovens contarão a mesma história vivida pelos mais velhos. Lembro-me de um caso em que as ruínas psíquicas da paciente originaram-se de equívocos de alguns cuidadores, que exaltavam as pessoas que estudavam muito e desqualificavam as que sabiam menos. 

Hoje, aquelas "verdades" estão emergindo e ditando os degraus de inferioridade em que a referida paciente se encontra. E qual a repercussão de tudo isso nos relacionamentos afetivos dessa paciente? É a predominância do critério intelectual. Se a discrepância for significativa, a barreira que se ergue termina por exigir altas doses de transpiração para ser superada. Em geral, os adultos envolvidos nessas corrosões emocionais estão simplesmente reproduzindo modelos mentais que herdaram e que foram considerados como a forma correta de participar da construção de uma nova vida humana. Não deixam de ser responsáveis por todos os danos perpetrados contra os pequenos, mas isso não justifica a carga de culpa tardia que eventualmente assumem. Não há culpa quando não existe a intenção de prejudicar (isso na Psicanálise)

Aqueles que foram marcados com tais experiências, e ainda mantêm as tatuagens da baixa autoestima, tendem a seguir uma vida aparentemente normal - estudam, trabalham, casam-se, têm filhos etc - mas todo esforço almejando a autorrealização, aquela sensação de liberdade, bem-estar, sucesso, felicidade etc, parece nos empurrar para trás. A pessoa tem uma imagem negativa de si, ressente-se por uma autoconfiança nivelada por baixo, duvida dos próprios méritos, considera-se inadequada socialmente e, ainda, tende a questionar as manifestações de amor que recebe. 

Tenho acompanhado casos de pessoas que já tentaram até mais de três casamentos e em nenhum enxergou motivos para consolidar algum tipo de vínculo. Em outras situações, de natureza equivalente, o paciente não reconhece a importância de uma família, bons salários, status social e no ambiente corporativo - "para que tanto esforço se, no final, nada é significativo", desabafam.

Segundo Lacan, o inconsciente, a grande bússola do ser humano, é formado antes mesmo do nosso nascimento. Antes de nascermos, já nos dão um nome, um sexo, um time de futebol, uma profissão; nascemos em uma determinada classe social com seus valores e preconceitos e num país com sua cultura e sua língua. Podemos acrescentar expectativas carregadas de amor, rejeições e, como já dissemos, formas inadequadas  de pavimentarmos o chão que acolherá aquele que está chegando.

Os conteúdos do parágrafo anterior, principalmente, indicam que a construção do alicerce, base de sustentação do interminável processo de edificação da vida humana, é de inteira e exclusiva responsabilidade dos pais ou cuidadores da criança, que mais tarde, no tempo devido, associa-se aos adultos para iniciar a gestão pessoal de sua vida. É agora que surge uma questão crucial: que material foi utilizado para a estruturação do alicerce? Esse alicerce suportará o peso de uma construção que nunca terminará? Se não, como haverá construção? E, sem construção, que lugar ocupará essa pessoa? O que fará de sua vida? Que vida?! É como construir uma casa sobre a areia.

É nas circunstâncias, descritas acima, que a pessoa patina desesperada querendo avançar, rema contra uma corrente poderosa que nos arremessa de volta e sente que em nada encontra razão para viver. Por isso, é fácil compreendermos relatos de pacientes de que desejariam ter morrido no lugar de seus animais de estimação. Você está imaginando qual será o desfecho deste artigo? É simples. Se você acreditar que pessoas incluídas em contextos tão adversos terão que sofrer permanentemente, poderá estar certo. Mas, se apostar que elas poderão superar todas as vicissitudes, também acertará.


Tudo dependerá das atitudes tomadas por essas pessoas. Através de um consistente processo psicoterápico, o paciente desenvolverá um crescimento mental que lhe permitirá, primeiro, compreender a natureza do material com que o alicerce de sua vida foi constituído. Em seguida, ele sentirá que precisa realizar uma profunda reforma nesse alicerce. Só então, haverá o início tardio da construção de sua jornada - "antes tarde do que nunca". 

A habilidosa e inteligente execução dessas etapas decretará o sagrado direito de todos à felicidade, ao poder criativo e transformador inerente a todo ser humano e, por fim, ao gozo responsável de todas as maravilhas que a vida potencialmente nos proporciona. Retornando ao título deste artigo, ousamos afirmar que jamais haverá RECONSTRUÇÃO onde não houve CONSTRUÇÃO, e sim um amontado movediço do que deveria ter sido o alicerce de uma vida.

Conte sempre conosco.

Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


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sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O " X" DA VIDA





Ao escrever este artigo, necessitei de acuidade especial na escolha de palavras que minimizassem a faixa de interpretações destoantes dos propósitos imaginados. Enquanto resgato da memória o traçado do que será escrito, considero ético informar que o tema em questão resultou de uma das muitas sessões de análise didática que tive com meu então analista,  e dileto amigo, Dr. Mário Santos. 

A figura, acima, mostra que o "presente" é o único e dadivoso momento em que podemos agir. Por isso, é chamado de presente. É o agora carregado de possibilidades e o instante singular para expressão do sujeito. A partir do agora, percebemos que o "passado" é o presente já vivido. E o "futuro", o presente projetado. A conclusão cronológica a que chegamos é que passado e futuro são tempos inacessíveis para as ações de todos nós.

Se não podemos agir no passado ou no futuro, de que modo eles podem nos influenciar? Ora, toda experiência passada constitui o nosso universo de conhecimentos e seus respectivos  condicionamentos - religião, cultura, sistemas políticos, meio ambiente etc - ou seja, nossas memórias. Vivemos de lembranças felizes, tristes, apáticas ou traumatizantes. Do ponto de vista psíquico, o que somos além de memórias? E todas elas, por serem passadas, são mortas. Não há como vivê-las novamente. Então, somos feitos de algo morto? O que você acha?

Que grandes ensinamentos podemos tirar dessas reflexões? Os conhecimentos jamais devem restringir-se ao modo como foram adquiridos, mas aperfeiçoados, ressignificados, praticados e compartilhados. Quanto às memórias, principalmente aquelas pigmentadas de conteúdos traumatizantes, deveriam permanecer como um passado morto. No entanto, podem representar sérios transtornos quando as ressuscitamos e passamos a vivenciá-las novamente. Esse sofrimento tanto pode originar-se do inconsciente quanto do consciente. Independentemente de onde emana a dor, seguir a máxima psicanalítica que diz que "quando a boca cala, o corpo fala; e quando a boca fala, o corpo sara" reacende o alívio que traz de volta a experiência restauradora do sorrir.

Quando um sofrimento percorre o nosso passado, sem o devido tratamento no presente - tempo de ação - projetaremos no futuro a mesma dor. Daí, advém a ilusão de que sofrer é um destino, uma sina, uma condenação. O sofrimento, como a felicidade, é um atributo inerente à existência humana. "Em quase toda a minha vida sofri demasiadamente. Pouco me lembro de momentos felizes", relatam muitos de nossos pacientes. Sócrates aponta o "meio" como o fiel da balança, o ponto de equilíbrio. Porém, é possível direcionarmos nossa trajetória para a bússola da felicidade e administrarmos as tristezas inevitáveis como cotas que farão o contraponto ao sabor especial daqueles momentos que gostaríamos que durassem indefinidamente.

Já tinha encerrado a produção deste artigo, inclusive o publicado, quando fui agraciado com a seguinte frase de Chico Xavier: "Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim"


Ramos de Oliveira
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sábado, 29 de agosto de 2015

SUJEITO OU OBJETO: QUAL ESTÁ NO COMANDO?



A palavra SUJEITO, de tão usual e com tantos significados, nos levou a consultar sua etimologia para podermos especificar o sentido que fundamentará a elaboração deste artigo. Ela deriva do Latim SUBJECTUS, particípio passado de SUBICERE, "colocar sob, abaixo de", formado por SUB, "sob", mais a forma combinante de JACERE, "lançar, atirar". Sendo apenas fiel ao étimo latino, podemos afirmar que sujeito é aquele que está no comando de alguma coisa ou situação. É o ente que interfere na realidade e assume todas as responsabilidades decorrentes de seus atos.

E agora, o que dizermos acerca do OBJETO? Do Latim OBJECTUM, significa atirado adiante. Assim, a etimologia da palavra refere-se ao que é posto diante. Esta descrição evidencia que o objeto recebe a ação do sujeito na medida em que  é posto adiante, a critério da vontade do sujeito.

Talvez, até aqui, nenhuma novidade esteja sendo apresentada e seria maravilhoso se continuássemos assim, vendo o sujeito dar as cartas sempre que interage com o meio onde cumpre as atividades de todos os dias. Infelizmente, não é isso que verificamos na maioria dos pacientes que procuram o nosso consultório. O que vemos, de fato, são pessoas atormentadas por pressões insuportáveis exercidas pelo conjunto de objetos que deveria estar sob gestão dos sujeitos.

Desse universo de pacientes, muitos têm consciência de todo o processo gerador do próprio sofrimento e dos meios para saná-los, mas perderam, completamente, o poder de decidir - "Já imaginou o que vão dizer de mim se eu fizer isso? Não quero me indispor com ninguém. Prefiro deixar tudo como está". Essas pessoas, em geral, tiveram perdas importantes, especialmente de dignidade,  e agora se submetem ao outro para garantir a aceitação social. Nesse caso, estão abdicando do papel de sujeito para se tornarem objeto de conveniências. 

Você faz ideia como essas pessoas se sentem? É difícil imaginar, porque existe a individuação da dor, a singularidade do sofrimento, em que a simples noção do que se passa com outro não corresponde ao que ele realmente sente. Com frequência, mostram-se como pessoas insignificantes, com autoestima negativa, à deriva em águas turbulentas que se estendem para todas as direções e sem destino algum. Mesmo acostumados à escuta de tantos sofrimentos, ficamos comovidos quando o paciente diz: "Nem sei porque vivo".

Para sorte de todos nós, o "fundo do poço" é o limite e ninguém vai além. Nossa suprema alegria é estendermos nossas mãos àqueles que estão deslizando pelas paredes desse "poço" e, juntos, realizamos a jornada de volta ao mundo de infinitas possibilidades, que muitas vezes parecem desaparecer de nossa existência, mesmo que continuem à nossa disposição. E, tão logo dissipemos o véu de nossos olhos, enxergamos o quanto "a vida é bela", cheia de encantos, fascínio de prazeres inesgotáveis. Isso não é nenhuma fantasia, mas apenas o prêmio reservado a todas as pessoas que vivem o seu papel de sujeito e fazem dos objetos uma riqueza imensa para si e felicidade ao compartilhá-los com o semelhante.

Se, neste momento, você se sente manipulado como se fosse um objeto, livre-se do preconceito de que o profissional de Psicanálise, ou de áreas afins, existe para os loucos. Ao contrário, atuamos para restaurar no sujeito tudo o que potencialize o orgulho de si mesmo, o prazer de estar com o outro e as aspirações de transcendência.

Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

1. O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM VOCÊ?


Caros leitores,


Daremos início a uma sequência de abordagens psicanalíticas de situações que poderão estar acontecendo com você e, provavelmente, comprometendo sua qualidade de vida e sua felicidade.

Boa leitura!


1. O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM VOCÊ?


Será que você recebeu uma educação excessivamente controladora e carregada de moralismo, onde tudo era pecado, que reprovava, e ainda reprova, a maior parte de suas decisões, tornando você um pessoa insegura e cheia de culpa pelo o que fez ou deixou de fazer?

Um quadro emocional, como o descrito acima, justifica o início de um competente processo psicoterápico, visando à transformação do estado de culpa em autonomia do próprio destino. A força do par-analítico - terapeuta e paciente - revela capacidades que pareciam não existir.


Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
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sábado, 25 de julho de 2015

PSICANALISTA: SUPORTE DO INSUPORTÁVEL






Eu sofro, tu sofres, ele sofre. Isso se conjugarmos o verbo apenas no singular. No plural, o sofrimento alcança o coletivo - nós sofremos. A natureza democrática do sofrimento consegue reunir em uma mesma arena todas as pessoas,  alternando apenas o momento e o tempo de permanência de cada uma. O fato é que ninguém pode dizer: "nesta arena não entrarei".

O que encontramos numa arena de leões? Provavelmente, leões sonolentos, saciados ou animais despertando morrendo de fome. Embora os leões também apresentem estados emocionais diferentes, temos que nos lembrar que são todos leões, potencialmente devoradores. Diante dos felinos que dormem, nossa maior ansiedade é descobrir o que fazer quando os bichinhos despertarem. 

Notem que, enquanto temos forças para encontrar uma alternativa que nos permita enfrentarmos os problemas, mantemos o controle da situação.  Nesse caso, não ocorre nenhum trauma. Todavia, sozinhos, diante de um selvagem faminto, sem suporte algum, é natural que percamos o controle da situação. É quando se instala o trauma. Sinais de impotência, sensação de abandono, total desesperança, dentre outros indícios de que nada restará, compõem um quadro típico de experiências traumatizantes, com interferências severas na vida do sujeito.

Se todos nós, em medidas distintas, sofremos, por que investimos recursos inestimáveis para evitar quaisquer das muitas facetas do sofrimento? Freud ilumina essa questão ao ponderar acerca do que chamou de pulsão de vida e pulsão de morte. Queremos viver e ser felizes (pulsão de vida). Do mesmo modo, nem pensamos em economia na hora de eliminarmos fatores que ameaçam nossa segurança. No entanto, nossa busca suprema não é o fim do sofrimento, mas vivenciarmos a felicidade. Ou seja, alinhado com Freud, o ideal de vida não é chutar o desprazer, mas abraçar o prazer.

Ao transmutarmos o simbolismo da arena leonina para o nosso cotidiano, nos deparamos com situações tão angustiantes, tão desesperadoras, que uma aparente cegueira temporária pode ocultar qualquer possibilidade de solução. Ou, pior, quando enxergamos alguma alternativa, optamos por aquela capaz de provocar os maiores estragos em nossa vida. Podemos até comparar uma situação extrema, como essa, onde nada parecer ter jeito, com os sinistros generalizados de um veículo, por exemplo. Diante dos prejuízos, aproveitando ainda o exemplo do veículo, resta ao proprietário a esperança de que o seguro reconheça a perda total e garanta um novo carro. Se o proprietário houver contratado um seguro, é claro.

Se considerarmos que todos nós estamos expostos a experiências insuportáveis, o mais prudente é buscar o suporte profissional - emocional e tecnicamente qualificado  para lidar com o sofrimento do outro - com o objetivo de preservar o nosso bem maior, a vida, e restaurar as infinitas possibilidades de sermos felizes. 

Não podemos negar que a vergonha e o  preconceito, muitas vezes, nos fazem  adiar a procura por ajuda. Todavia, convém lembrarmos que a diversidade e a individualidade dos dons fortalecem determinadas pessoas para amparar aqueles que necessitam. No exercício da Psicanálise, permanecemos 24 horas conectados com quem está tentando atravessar o pântano do sofrimento. E ninguém, melhor do que nossos pacientes,  podem validar o que estamos afirmando. É por isso que reputamos inteligível afirmar: O Psicanalista é o suporte do insuportável.



Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


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quarta-feira, 3 de junho de 2015

PSICOTERAPIA PARA CASAIS



Nas decisões que tomamos estão implícitos os ganhos que pretendemos alcançar. Essas expectativas continuam presentes nos relacionamentos afetivo-conjugais que estabelecemos com outra pessoa, lembrando que essa outra pessoa também aguarda ser beneficiada no seu contexto relacional.

Agora, está evidente que as expectativas veladas tornaram-se explícitas e revelam que todos estão buscando algum  tipo de gratificação, especialmente a satisfação inconsciente de necessidades ainda não atendidas. Pensar somente em si é egocentrismo, e dedicar-se exclusivamente ao outro é altruísmo. Note-se que em ambas as situações há um desequilíbrio que provoca insatisfação, cobrança, sentimento de injustiça, infelicidade e potencialização do sonho de completude, ou seja, direcionar esperanças em novos relacionamentos. Segundo o mestre Sócrates, " equilíbrio está no meio".

Se o casal (namorados, noivos ou casados) está em desequilíbrio, e, sozinhos, não estão conseguindo alcançar o ponto de equidade, parece que chegou o momento precioso de procurarem suporte especializado. Para isso, o primeiro passo é trocar a arrogância de quem acha que sabe e pode pela humildade de quem busca, aprende e descobre.

Ser infeliz a dois contradiz os sonhos pessoais de felicidade. E tudo piora quando os filhos engrossam o cordão dos que contabilizam fragmentos de fracasso. Se nada é permanente, exceto o processo de mudança, os prolongados estados de amargura que hoje atormentam os casais e as famílias poderão, a depender de nossa competência, se tornar uma extensa rota de grandes alegrias e muitas felicidades.

Minha atuação de Psicanalista em Psicoterapia de Casais tem sido fortemente beneficiada com a longa experiência que acumulei em equipes de preparação de noivos para o casamento, e com a feliz sucessão de 36 anos de casados, com filhos que validam a construção de uma família equilibrada.

Na busca de maior harmonia no  seio de sua família, disponibilizamos nosso consultório para assessorá-los nessa travessia.




Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


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domingo, 10 de maio de 2015

OLHAR MATERNO



Não me incomodo se, nesta homenagem às mães, componentes inovadores sejam escassos ou pouco inflamem o hemisfério racional da maioria de nós. É proposital. A mãe, personagem central deste dia, não funda sua mobilidade na trilha neural que pensa, analise, critica, julga ou condena.  No contrafluxo de tudo isso, a mãe simplesmente sente, acolhe, compreende, protege porque projeta no filho um amor que escapa a todos os critérios de racionalidade.

Em cada retina, há cerca de 120 trilhões de foto-receptores que libertam moléculas neurotransmissoras a uma taxa que é máxima na escuridão e diminui, de modo proporcional, com o aumento da intensidade luminosa. Misteriosamente, o olhar materno prefere contemplar o filho através da escuridão, porque, assim, sua acuidade visual enxerga apenas as qualidades de sua descendência. É no escuro, que a perfeição das mães se projeta em seus filhos, tornando todos eles pessoas imunes a qualquer tipo de impureza.

Esse amor, tão generoso, é potencializado no coração da mulher e se manifesta assim que uma nova vida germina em seu ventre. É natural que  a criança oriunda desse sacrário se sinta merecedora de uma atenção incondicional, como se fosse uma rainha cercada de pessoas predestinadas a servi-la. Nessa fase, a criança desenvolve um normal e necessário estado de narcisismo, expresso na onipotência de manter tudo sob seu controle, bastando simplesmente chorar. A pujança desse reinado perdura enquanto a criança percebe que ela e a mãe são a mesma pessoa, ao mesmo tempo em que a mãe entende que precisa renunciar a si mesma para viver os horários e todas as demandas da criança. Ocorre, nessa espécie de fusão, uma verdadeira simbiose materno-filial.

O império das emoções que vincula mãe e filho parece congelar o tempo para os eternos "filhotes". Hoje, compreendo porque minha avó, após reencontrar um filho que não via há vinte e seis anos, disse: "Meu filho, tenho a impressão que você continua crescendo"; mães que afagam os cachos grisalhos de seus filhos ainda sentem a maciez e o cheirinho dos cabelos de uma criança; se um filho adoece, a mãe logo questiona: "Não seria melhor que fosse eu?"; quando chora a prisão de um filho, é porque está disposta a trocar de lugar com ele. E, em casos extremos de execução de filhos, ela não hesitaria em dizer que já viveu bastante e que poderia morrer para salvá-lo.

Sinto-me feliz por não apresentar nenhuma novidade acerca da maternagem, uma vez que a sacralidade de sua missão absorveria qualquer inspiração que ousasse acrescentar um verbete sequer com o objetivo de esclarecer a misteriosa ligação entre mãe e filho. Sendo assim, resta-me selar esta mensagem com o pensamento a seguir: "Deus, não podendo estar em toda parte, criou a mãe". 

Feliz Dia das Mães!



Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


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domingo, 18 de janeiro de 2015

A POTÊNCIA DO SER



Garimpamos no étimo latino potens (aquele que pode, potente) a compreensão da força inerente ao ser humano que o torna apto a sonhar, pensar, sentir, empreender, inventar, inovar, transformar e, especialmente, potencializar análise e respostas às demandas que vão surgindo no curso de toda nossa existência.

É reconfortante lembrar que os mestres do pensamento grego, notadamente Platão, concebiam como realidade concreta a instância que compunha o mundo das ideias, da potência, da força, da energia criativa, dos sonhos, dos projetos, e o ambiente fenomênico, este que consideramos o espaço das  coisas físicas, apenas o reflexo dessas ideias. 

Para ilustrar, façamos uma analogia com o Teatro Grego, que enriqueceu eixos literários com suas famosas tragédias e comédias. As primeiras, que eram divididas em cinco atos, retratavam, perfeitamente, a forma de pensar da cultura grega, isto é, cada Ato era a representação de ideias de seus autores. Esses atos até poderiam  ser extintos, mas as ideias correspondentes, jamais.

O que ganhamos com a experiência grega? Diante de uma infinidade de ganhos, sublinhamos os relacionados com um laboratório de ideias que existe em todos nós, uma verdadeira indústria ávida para transformar pensamentos, inteligentemente articulados, em ações, atos e atitudes que podem melhorar a nossa própria realidade e os domínios do outro. Para isso, só precisamos investir tempo e conhecimento na concepção e implementação de ideias edificantes, precavendo-nos apenas da frequente e cômoda tentação de agirmos sem pensar, ou pior, simplesmente pensarmos sem agir. Tão arriscado quanto construir uma casa sobre areia é realizar qualquer ato sem o devido lastro no olimpo das ideias. Note-se que a consumação de um ato está condicionada ao desempenho de um ator, considerando-se que ator é aquele age. Ator fora de cena refere-se àquele profissional da representação (teatro, cinema, televisão, etc) que, eventualmente, aproveita o ócio criativo.

Sabiamente expressou-se Charlie Chaplin ao afirmar que "O homem continua vivo mesmo sem sonhos, mas deixa de existir". Do mesmo modo, Shakespeare não estava sendo metafórico quando, próspero, disse: "Nós somos feitos da mesma matéria dos sonhos". Cito como exemplo minha sogra, Liquinha Passos, que acreditou nessa potência. No início dos anos 60, ganhando apenas Cr$ 20 (vinte cruzeiros), sonhou em comprar uma casa em Viçosa do Ceará, onde morava, avaliada em Cr$ 800 (oitocentos cruzeiros). E, se é verdade que os sonhos têm a bênção do Universo, ela negociou uma estratégia de compra do aludido imóvel e nele residiu por  muitos anos. Atualmente, esse prédio compõe a rede hoteleira da exuberante e acolhedora Viçosa do Ceará.

Por que essa energia eletrizante impulsiona determinadas pessoas para tão longe, enquanto outras pouco progridem, e ainda há um imenso grupo que patina no mesmo lugar durante toda a vida? De fato, não é a energia em si que nos impulsiona. Somos nós que aplicamos a força dessa energia para o alcance dos fins desejados. A energia elétrica, que fica adormecida na tomada, permanece inoperante até que seja demandada por algum equipamento. Enquanto isso não acontece, nós, os adultos, devemos intensificar os cuidados com nossas crianças, exatamente por não enxergarem o poder invisível que se esconde por trás daqueles inocentes furinhos. Quem não acredita nas próprias capacidades não percebe que os limites são flutuantes e temporários e só existem para quem os vê.

As respostas para alguns questionamentos no parágrafo anterior são encontradas, abundantemente, na prática psicanalítica com um número expressivo de pacientes. Escutamos relatos envolvendo pais, cuidadores ou outros tipos de influência parental, em que nossos pacientes descrevem formas depreciativas de humilhação, repressão de sonhos e desejos, distorções da autoimagem, aniquilamento dos últimos resquícios do que poderíamos achar de autoestima e respeito por si mesmo, sem contar com o empenho irrestrito dos agressores para garantir o completo fracasso dessas pessoas, que se agarram no que lhes resta de fôlego em busca de ajuda. 

Os que ofendem ignoram que nosso consciente é versado em decodificar palavras, enquanto o inconsciente incumbe-se de converter o discurso verbal e não-verbal em imagens. Quando dizemos, por exemplo, a uma pessoa que ela é imprestável, o inconsciente dela decodificará essa mensagem como uma imagem identificatória. Caso a repetição desse discurso se torne rotineiro, a tendência dessa pessoa é se identificar e se orientar por aquilo que, habitualmente, ouve. "Sou imprestável". E, assim, acredita e age.

Que motivações teriam os que impingem o constrangimento para submeter o outro a tanto sofrimento? Manobras inconscientes resgatam fantasias infantis que nos levam a acreditar que, se provocarmos no outro as mesmas dores pelas quais passamos, agradaremos e mudaremos aqueles que nos fizeram sofrer e, assim, seremos amados como gostaríamos. Sem nos darmos conta de que estamos reproduzindo experiências negativas já vividas, mergulhamos no que Freud cunhou de compulsão à repetição. Se prestarmos atenção, veremos que somos porta-vozes de um dos nossos pais, especialmente daquele com quem travamos maiores conflitos. O ciclo das repetições cessa quando os conteúdos inconscientes, que desencadeiam sofrimentos pessoais e no próximo tornam-se conscientes através de um competente processo terapêutico.


Viva a espécie humana! Dentre toda a Criação, somos os únicos seres dotados de duas dimensões vitais para a nossa existência: uma cognitiva, que nos faculta
compreender interpretar a realidade que nos cerca e nos influencia; e outra emocional, que nos faz sentir os efeitos das interações com o meio e com nós mesmos. A falta de cooperação entre elas poderá nos condenar a destinos inimagináveis e fatídicos. Por outro, o funcionamento integrado dessas dimensões evoca o poder do ser humano de gerenciar, competentemente, os recursos que asseguram a própria felicidade e, ainda, contribuem para a felicidade de seu semelhante.






Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


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Fortaleza - Ceará - Brasil