quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

VOCÊ SE ACHA FEIO/FEIA?



Esta pergunta afetou você? Se o desconforto causado por essa indagação foi desconcertante, pode-se supor que os relacionamentos mantidos com seus pais, normalmente insuportáveis com um deles e menos frequentes com ambos, são os responsáveis pela imagem depreciativa que você tem de si mesmo/mesma.

Provavelmente, eles jamais verbalizaram que você é uma pessoa feia. Porém, mais ferinas do que as palavras são as atitudes dos pais que produzem a crença de que determinado filho ou filha é incompetente, sem futuro, imprestável e um fracasso em tudo que tenta. 

Ao se levar em consideração que os pais são as pessoas de maior credibilidade para uma criança, tudo o que eles dizem, verbalmente ou por atitudes, torna-se introjetado pelos pequeninos passando a se constituir o que chamamos de projeção identificatória, isto é, nossa identidade, nossa autoimagem,  traços de personalidade.

Uma vez instituída a crença de feiura, é inútil os outros nos acharem bonitos. Nunca acreditamos. Agora você pode perguntar: "Tem jeito?" "Posso me sentir bonito ou bonita"? Nossa resposta é SIM. Através do processo psicanalítico, que investigará a gênese de seu sofrimento, a combinação de técnicas e métodos apropriados será aplicada para transformar a estrutura psíquica que faz você perceber-se como alguém degradante.

Nossa experiência clínica, com esses casos, tem nos proporcionado grandes alegrias, uma vez que nada se compara à felicidade de alguém que vence a depreciação de si mesmo ao descobrir que é lindo/linda, inteligente, competente, possuidor de um potencial inestimável para incontáveis conquistas e, acima de tudo, é digno de amar, ser amado/amada e construir um mundo repleto de amigos e muito sucesso.

O brilho de nossa imagem é tornar a sua cada vez mais radiante!

Ramos de Oliveira

Psicanalista Clínico

Professor de Psicanálise e Palestrante

 Email: ramos.talentos@gmail.com

Av. Santos Dumont, 847 - Sala 303 – Aldeota

Fortaleza - Ceará - Brasil

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terça-feira, 22 de novembro de 2016

TERAPIA PARA PAIS DE FILHOS COM COMPORTAMENTO CONFLITUOSO



Transmitimos aos nossos filhos, inconscientemente, a história que vimos construindo desde o ambiente intra-uterino até os dias atuais – ansiedades, medos, inseguranças, traumas, valores etc. Tudo isso é aprendido sem ensinamento algum.

Cada atitude nossa é carregada de conteúdos psíquicos assimilados por aqueles que estão em rápido processo de formação e transformações. Esses conteúdos são, portanto, componentes constitutivos da autoimagem, das identificações e da personalidade de nossos filhos.

Podemos dizer que os filhos são reflexos do que projetamos. Somos, por tudo isso, a matriz geradora dos sintomas emocionais revelados por nossos filhos. Diante de tais evidências, estamos criando em nosso consultório um atendimento específico para pais que estão desnorteados com relação aos filhos que apresentam conflitos relacionais.

O atendimento indicado consiste em um programa psicoterápico, cujo objetivo é proporcionar aos pais a oportunidade de autoconhecimento, compreensão das próprias atitudes, entendimento da interação conjugal e adoção de conduta para reverter o indesejável ambiente familiar.

Concluído o programa com os pais e implementado o processo de harmonização da família, e ainda assim os níveis de tensão dentro do lar excederem o esperado, recomenda-se a psicoterapia também para os filhos. Neste caso, as possibilidades de êxito apoiar-se-ão no empenho dos pais, do psicoterapeuta e dos filhos. Terá tudo para dar certo. Afinal, a família, cuja função é abrigar e aquecer todas as pessoas, deverá ser também palco das grandes celebrações.

Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


Email: ramos.talentos@gmail.com
Av. Santos Dumont, 847 - Sala 303 – Aldeota
Fortaleza - Ceará - Brasil








quarta-feira, 16 de novembro de 2016

EXPECTATIVAS VERSUS ESTADO DE PRONTIDÃO




Verifica-se, na escuta psicoterápica, uma incidência expressiva de sofrimento de pessoas que direcionam quase a totalidade de suas energias para fora de si, especialmente para familiares, profissionais, instituições, etc. Nenhuma confiança, ou muito pouca, está alinhada com as próprias competências. O resultado disso tudo é uma avalanche de expectativas destinadas a instâncias onde não se tem o menor controle. É como plantar flores em jardins alheios e esperar que seus donos as devolvam.

Ora, se investimos nossas forças num centro de dor, o retorno tende a tatuar o rosto do desespero, do fracasso e do processo que deprecia os fragmentos sobreviventes da autoestima. O que sobra do sujeito é a robustez do elevado "muro das lamentações". Enquanto esse tipo de investidor não diversificar a aplicação de seus recursos internos, corre o risco de escapar do muro das lamentações e embarcar no trem do infortúnio e enxergar pela janela apenas a cinzenta paisagem da felicidade que poderia ter vivido e dos dissabores que azedaram sua vida.

Poderá haver reversão desse quadro? Claro que sim! Apostamos exclusivamente fora de nós até encontrarmos um profissional de grande competência que nos releve: "Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo" (Hermann Hesse).

A partir do suporte psicoterapêutico, espera-se que deixemos de esperar o que poderá vir de fora, com enormes riscos de grandes frustrações e passemos a canalizar o vigor de nossas energias para o potencial  que irriga um oceano de possibilidades que torna navegável os mais distintos tipos de embarcações. Agora, a situação é totalmente diferente. A felicidade terceirizada e esperada de fora será produzida dentro de nós e orientada segundo os critérios que nos convém.
Com essa mudança de perspectiva, podemos, finalmente, migrar do posto que aguarda uma determinada coisa, que é a expectativa de algo específico, para o farol do estado de prontidão, em que estruturamos nossa plataforma interior para acolher demandas de qualquer natureza. Não esperamos o que vem, mas nos tornamos prontos para o que vier. Note-se, neste caso, que as coisas não precisam chegar irretocáveis, mas, ao contrário, são retocadas de acordo com aquilo que queremos para nós.

Esperar dessa fonte inesgotável que somos nós, onde tudo só depende de nossas competências, desarticula complemente a implacável realeza das expectativas e nos habilita a sonhar, planejar, realizar e celebrar o fruto do que podemos empreender em nosso favor e do bem-estar do outro.



Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


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Fortaleza - Ceará - Brasil




domingo, 18 de setembro de 2016

FÉ E POSSIBILIDADES



O exercício da Clínica Psicanalítica tem nos induzido a refletir acerca da fé que move os pacientes até nossos consultórios. Já atendemos pessoas que percorreram quase 400 km, por acreditarem em nosso trabalho. Mesmo que as longas distâncias interfiram na frequência das sessões, reputamos meritório o empenho de quem, ainda que more próximo ao consultório, inclua em sua densa rotina a ida sistemática ao encontro daquele que se dedica ao ofício de contribuir para o alívio do que está se tornando insuportável. 

Essa demonstração de fé nos emociona, estabelece vínculos e nos compromete ainda mais com a busca incessante de novos e eficazes conhecimentos, onde quer que esses saberes sejam gerados, porque o sucesso terapêutico de maior consistência é aquele que se reveste de humildade e de sabedoria para articular métodos e técnicas afins, com o objetivo de melhor suporte aos nossos desafios profissionais.

Lacan (1901-1981), respeitável referência da Psicanálise, na França, foi pródigo ao aludir à expressão Sujeito Suposto Saber para abordar a confiança do analisando no analista. O paciente acredita que o profissional é suficientemente competente para ajudá-lo. A força de tamanha adesão "remove montanhas" e deixa para trás os obstáculos que possam interferir no estado de pacificação mental almejado, no tão sonhado conforto emocional, no bem-estar físico de que necessita e nas aprazíveis conexões espirituais - dimensões constitutivas e essenciais de todo ser humano.

Ficamos tão impressionados com a enigmática natureza da fé, que resolvemos pesquisar sobre o assunto e logo descobrimos que se trata da abreviação da palavra fiel e a palavra fiel é uma abreviação da palavra fidelidade, ou fidelis (latim). É uma adesão de forma incondicional a uma hipótese que a pessoa passa a considerar como sendo uma verdade, sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação. A fé acompanha absoluta abstinência de dúvida. É impossível duvidar e ter fé ao mesmo tempo.

Imaginou se alguém, que viajou cerca de 400 km, como citamos no início deste artigo, questionasse: será que valerá a pena um sacrifício desse para ir tão longe? Se essa dúvida tivesse existido, provavelmente a paciente não teria vindo até nosso consultório. A fé é uma cortina que se abre para um mundo de possibilidades. Pela fé, nos tornamos capazes, dignos, potentes, poderosos, heróis que enxergam vitória em todas as batalhas, pessoas predestinadas ao sucesso. 

O momento paralímpico Rio 2016, que ora transcorre em nosso País, reúne atletas que substituíram a completude do corpo pela fé de continuarem engajados no que parecia impossível. Mas, impossível para quem? Para todos esses atletas, o "impossível" não é um fato, apenas uma opinião. E cada um tem a sua, verdadeira somente para os que acreditam.  A situação pode parecer tão incrível, que às vezes é complicado aos "normais" compreenderem a eficiência daqueles que muitos consideram deficientes.

Se considerarmos que o Olimpo é o palácio dos deuses, os atletas que se elevam a níveis olímpicos tornam-se vizinhos desses deuses que encarnam a perfeição e, portanto, habitantes de zonas nirvânicas, paradisíacas e glória plena. Ao assentirmos que a fé torna possíveis todas as coisas, desmonta os limites e dissolve as fronteiras, afirmamos também que acreditar nas impossibilidades é a maneira mais segura e mais confiável de produzirmos a estagnação e o retrocesso. 

Enquanto acreditarmos que moramos no lado oposto do Olimpo, com um intransponível fosso no meio, permaneceremos inabilitados à glória dos deuses, ou seja, à felicidade que percorre os ares em busca de um lugar para pousar onde nós estamos. Tudo isso é consequência da fé. Do mesmo modo que a fé remove montanhas, também deixa a montanha onde sempre esteve. As pessoas que recorrem ao processo terapêutico são, potencialmente, bem-sucedidas, porque têm fé que podem melhorar e admitem, também, que sozinhas não conseguirão. A isso chamamos de humildade. Portanto, a aliança que envolve analista e analisando tende a ser vitoriosa.

Jesus Cristo nos instigava à fé e nos fazia sonhar com um cenário livre de todas as formas de limites e nos garantia: “Em verdade vos digo: se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta montanha: ‘Vai daqui para lá’, e ela irá. Nada vos será impossível.” (Mt 17,20). Sempre muito respeitoso, antes de realizar seus milagres, perguntava àqueles que O procuravam: "O que queres que eu faça?". Em seguida, respondia: "A tua fé te salvou". Talvez querendo que ousássemos mais ainda, Jesus afirmou: "Aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai (João 14.12).

Ao final deste artigo, traçamos um paralelo entre Fé e Ciência. Enquanto a Fé, dispensando as evidências da comprovação, afirma que é preciso crer para ver; a Ciência ampara-se no ver para crer. Ora, se a Ciência percorre caminhos longínquos para ver, certamente é porque tem muito mais fé do que se possa imaginar.

Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


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sábado, 2 de julho de 2016

MENTE E CORPO DIVORCIADOS





Será que sua mente se parece com um turista solitário e afortunado, que abandona o corpo à intensa rotina do dia a dia, embarca para destinos incertos, desembarca em qualquer lugar e segue incansável sem propósito algum? Se sua resposta for 'sim', é bastante provável que você esteja com dificuldades de assimilar o que acabou de ler, de entender o que o outro disse, de localizar objetos de uso rotineiro, de lembrar nomes de pessoas conhecidas etc.

Calma. Não confunda isso com o mal de Alzheimer nem se sinta sozinho. Segundo a psicóloga Amishi P.Jha (2014), doutora em imageamento cerebral, da Universidade de Miami, estudos com voluntários apontam que "a maioria das pessoas passa metade do tempo no estado de distração mental". É muita gente e tempo demasiado em dispersão. Aliás, pensa-se muito sobre o tempo. Culturas bastante pragmáticas ensinam que "tempo é ouro"; outras, mais saudosistas, reclamam que "o tempo que vai não volta mais"; contudo, foi na erudição da Roma Clássica que floresceu o dogma de "fugit irreparabile tempus", traduzido como o tempo foge irreparavelmente.

E o que causa tanta divagação? Essa nave que transporta mentes desgovernadas para estações inimagináveis é alimentada por diversificadas formas de preocupações e medos. Pessoas que, habitualmente, são afetadas por pensamentos e sentimentos indesejáveis, geralmente, intrusivos e catastróficos, tendem a sofrer de estresse psicológico crônico. Trata-se de um estado emocional que torna o foco difuso, desestabiliza a atenção, embaça a percepção e compromete a segurança do sujeito em decisões que exigem precisão e rapidez. 

Essa perda de eficiência produz uma sensação de incapacidade, de incompetência, de incompletude, de solidão e de oficialização do divórcio entre o corpo e a mente. Tem-se, ainda, a impressão de que a pessoa transformou-se em autômato, robotizou-se, movimenta-se como um corpo sem alma e está, completamente, alijada de qualquer racionalidade. Subjacente a tudo isso irrompe-se um quadro de humor deprimido e elevado nível de ansiedade.

Você já se flagrou tomando o café da manhã com sua família, enquanto pensa numa reunião agendada para as 15 horas? Talvez nem se lembre de haver dividido um beijo da pessoa amada com uma promissória que venceria no mesmo dia. E quando alguém atravessa uma noite insone, assediado por pensamentos de que o amor de sua vida está se afogando em outros braços? Há situação mais angustiante do que programar uma viagem para o futuro e disparar, de imediato, um turbilhão mental de providências para que nada dê errado, e até realizar a viagem dos seus sonhos e não ver a hora de voltar? Observa-se, nesses casos e em episódios similares, que a mente ausenta-se nos melhores momentos e pousa nos lugares frequentemente hostis e causadores de grandes sofrimentos.

FELICIDADE E BEM-ESTAR

Mens sana in corpore sano (uma mente sã num corpo são) é uma máxima filosófica citada na décima Sátira do poeta romano Juvenal. O que de fato Juvenal propunha aos romanos que pedissem, em oração, saúde física e espiritual. Ou seja, o esforço necessário para se alcançar um equilíbrio saudável no modo de vida e de ser. Certamente, Juvenal já inferia que o ser humano é um composto indissolúvel psicossomático, ou seja, as torturas psíquicas molestam, impiedosamente, a estrutura corpórea. Daí, ser compreensível o empenho de tantos especialistas na produção de obras admiráveis abordando a decodificação da linguagem corporal, instigados pela ideia de que o corpo fala.

Quando se leva em consideração que a mente divaga por causa do acúmulo de tensões e retorna com mais tensões ainda - humor deprimido, ansiedade, estresse, pânicos, fobias e outros distúrbios psicológicos -, é razoável admitir-se que as tensões, em níveis toleráveis, possibilitam o foco no agora, o olhar cuidadoso e maior concentração. Tudo muda quando a mente se torna parceira das ações empreendidas. Sempre que isso acontece, mente e corpo unificam-se para uma experiência plena no presente. Muitas são as formas de direcionamento da mente, esta que já foi chamada pelos hindus de "besta indomável".

Atenção Plena


Ainda com base no que pontua a doutora P.Jha, a prática da Metaconsciência consiste em focar a atenção, voluntariamente, para desenvolver a habilidade de reconhecer e acompanhar pensamentos, sentimentos (raiva, medo, tristeza, alegria, inveja etc) e sensações (experiências sensoriais) em curso, sem se prender a eles nem formular julgamento algum. Outro esforço eficaz na captura dessa besta indomável é a Atividade receptiva ou treino de Monitoramento aberto, que propõe prestar-se atenção ao que se passa pela consciência o tempo. 

Assim, do mesmo modo que a atenção focada em um determinado objeto sonoro permite aferir a amplitude desse som - alto ou baixo -, também o monitoramento vigilante de pensamentos, emoções e sensações detecta aumento e diminuição de sua intensidade. Tendo-se consciência  que  o tônus da dor sofre oscilações, elimina-se a percepção de que o sofrimento é sentido apenas no seu estado mais doloroso. 

Há outras estratégias que nos ajudam a seduzir nossa mente para se incorporar ao calor do agora - inspirar e expirar. Muito simples e já o fazemos naturalmente sem esforço nenhum. Porém, a chave que integra corpo e mente é o fato de nos atermos ao trajeto do ar durante o fluxo e  o refluxo, isto é, a entrada e  a saída do ar. Enquanto nos fixamos na movimentação do ar, conseguimos atrair a mente para nós próprios. Se, em alguns momentos, verificar que a mente se perdeu, serenamente e livre de qualquer obrigatoriedade, retome o ritmo do sopro vital. Essa atividade poderá ser realizada em momentos específicos, ou sempre que uma onda de preocupação traçar o roteiro alienante sua mente. Atenção plena é a tradução de Mindfulness, termo apropriado pela literatura pertinente.

Mais Saúde

O cruzamento de pesquisas realizadas em centenas de centros de estudos da Mindfulness aponta resultados já comprovados e outros em fase de validação. Dentre esses resultados, podemos destacar o convívio amigável com a solidão, o fortalecimento do sistema imunológico, a redução dos riscos de doenças inflamatórias como lúpus, artrite e reumatismo em adultos mais velhos, o alívio dos sintomas de doenças agravadas pelo estresse, como psoríase, dermatite, fibromialgia e doenças do intestino irritável, a regulação do humor e a melhora da capacidade de memória de trabalho. 

De todos esses postulados, conclui-se que a prática diária da Meditação  - de 10 a 15 minutos - produz resultados similares aos obtidos pelos exercícios físicos. Conquistar uma atenção plena equivale a dispor de uma mente rápida e concentrada, pronta para positivar o humor e construir uma vida feliz, mais saudável e com maior longevidade.



Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


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sexta-feira, 13 de maio de 2016

MILAGRE COMPARTILHADO


Por que acreditam tanto em mim?

Uma das características marcantes de Jesus foi acreditar nas competências humanas. E fez questão de demonstrar essa confiança em ocasiões que exigiram dele ações exclusivas de quem tinha pleno domínio sobre a Terra e em tudo que nela habita. Nas Bodas de Caná, realizou o primeiro de muitos milagres que haveria de praticar. Considere-se que ele foi àquela festa de casamento como convidado. Nem por isso, foi poupado de ser informado de que o vinho acabara. Em vez de cuidar da transformação de água em vinho, como ficou conhecida sua estréia no universo dos milagres, sem que ninguém percebesse, optou por incluir algumas pessoas naquela façanha extraordinária. De imediato, ordenou aos empregados que preenchessem os vasilhames com água e tomassem um pouco dela para servir ao presidente da mesa. Já na primeira oportunidade de realizar milagres, as atitudes que se sobressaem aludem às participações dos empregados e do presidente da mesa, este último com a prerrogativa de aprovar o milagre do Messias. Observe que Jesus priorizou a confiança nos talentos daquelas pessoas e envolvimento destas no processo de transformação para proporcionar alegria e tranquilidade às celebrações humanas.

Em outra ocasião, Jesus tentou recolher-se no deserto quando soube que João Batista havia sido morto. Conforme a noite se aproximava, os discípulos chegaram até ele e disseram: "Este lugar é deserto e a hora é já passada; despede, pois, as multidões, para que, indo às aldeias, comprem alguma coisa para comer.". Jesus respondeu: "Não precisam ir; dai-lhes vós de comer.". Os discípulos retrucaram: Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes" e Jesus pediu-lhes que lhos trouxessem. Novamente, o Filho de Deus valoriza os recursos de homens e mulheres e os insere em seus ritos miraculosos. Jesus evidenciava que, no cenário dos milagres, as pessoas presentes tinham papéis importantes a cumprir, cabendo a ele a responsabilidade de fazer o que ninguém jamais conseguiria realizar. E dessa forma, segundo extratos bíblicos, cinco mil pessoas foram alimentadas.

Jesus, para se distinguir entre os homens, precisava empreender atos idiossincráticos. E encontrou nos milagres uma oportunidade especial de socorrer as pessoas em suas dores extremas. Para isso, curou, perdoou, ressuscitou etc. Mesmo detentor de tanto poder, o Nazareno se compadecia das tristezas humanas, e até chorou quando Maria e Marta, irmãs de Lázaro, comunicaram-lhe que seu irmão havia falecido há quatro dias. De onde estava, bem distante do túmulo de Lázaro, Jesus poderia tê-lo trazido à vida. No entanto, Jesus preferiu contar com a parceria de mais pessoas para realizar um dos milagres de maior notoriedade em sua vida. Chegando ao local, disse: "Retirem a pedra". É claro que a ressurreição de Lázaro poderia incluir a retirada da pedra. Mas Jesus apropriou-se daquele momento para privilegiar as competências humanas, por acreditar que são fundamentais na autonomia de cada sujeito.

A prática de milagres sempre fez parte da trajetória de Jesus. Um dia, trouxeram-lhe um cego em busca de cura. Mesmo sabendo o que o cego esperava, Jesus indagou: "O que queres que eu faça?". Até na iminência de fazer o bem a alguém, o Filho do Altíssimo valorizava a opinião dos agraciados com a saúde. Jesus adorava trabalhar em equipe, grandes ou pequenas. O que de fato queria era fazer o outro sentir-se importante atuando ao lado dele. Depois do cego, foi a vez de um aleijado, prostrado e adaptado em sua cadeira de rodas. Nem diante daquele homem, completamente ajustado ao seu micro espaço, Jesus deixou de enxergar o potencial que ele tinha de ser capaz de conquistar um mundo novo, com as próprias pernas. Simplesmente, fitou o homem e disse: "Levanta-te e anda".  Não bastaria apenas ser curado. Dizem que nenhum ente sentado anda - empresas, igrejas, pessoas etc.

Notem que, independentemente das circunstâncias em que Jesus realizava seus milagres, ele enaltecia a capacidade empreendedora do ser humano. Parece que só assim ele se sentia confortável, feliz, envolvendo pessoas nas transformações da realidade. Se Jesus, que nos conhece mais do que nós nos conhecemos, acredita tanto em nós, por que vacilamos em confiar nas nossas próprias competências? Por que recusamos determinadas incumbências que nos são delegadas, quando muitas pessoas acreditam que podemos atendê-las? Muitos pacientes queixam-se da falta de capacidade de tomar decisões. Chegam em uma loja para comprar roupas, por exemplo, passam horas intermináveis escolhendo, mas não conseguem escolher a peça que lhes agrade. Frustrados, vão embora sem a roupa nova, com muita culpa e a autoestima em níveis intoleráveis. Para quem nunca vivenciou experiências parecidas, não faz a mínima ideia do tamanho da dificuldade de escolher um chocolate entre marcas diferentes.

Por que isso acontece? Ao conhecermos os étimos da palavra DE-CISÃO, fica mais fácil entendermos os obstáculos na hora de escolhermos. DE: fora; CAEDERE: cortar - cortar possibilidades. Observe que encontramos a palavra cisão no vocábulo decisão. E cisão significa ruptura, rompimento, perda, exclusão. Ora, se uma decisão implica em perda, pessoas que já tiveram perdas importantes sentem-se bloqueadas quando precisam decidir. Na hora de comprar uma roupa, um processo inconsciente informa que haverá perdas. Então, é melhor não levar nada do que perder alguma coisa.

Considerando-se que o propósito maior da Psicanálise é promover a autonomia do sujeito, que significa autoconfiança, percebemos que Jesus busca o mesmo objetivo ao acreditar e envolver as pessoas naquilo que poderia ser exclusivamente dele. Com isso, podemos chamar de milagre compartilhado as infinitas oportunidades que Jesus nos oferece para demonstrarmos que somos capazes de operarmos, com ele, o milagre que transforma uma experiência limitante em uma realidade plena de satisfação. Se algum transtorno desabilita sua confiança em si mesmo, é hora de procurar ajuda profissional. Se isso não é o seu caso, confie em você, como o fez Jesus, sempre que era instigado a operar mais um milagre.


Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


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domingo, 27 de março de 2016

SABOR DOS RELACIONAMENTOS HUMANOS




Cada vez que interagimos com alguém, direta ou indiretamente, temos sensações confortáveis ou desconfortáveis. É claro que o mesmo ocorre com nosso interlocutor, aquele que nos aborda. Ele também experimenta o sabor do encontro que teve conosco, que pode ser doce ou amargo.

Reconhecendo a importância deste tema, vivenciado por todos nós a cada instante, enriquecerei a profundidade deste artigo com a brilhante competência intuitiva de Gilberto Katayama, clínico geral e especialista em medicina do trabalho e saúde pública. Segundo ele, em seu artigo Mudança de Padrões de Consciência, publicado pela Revista Psique - Ano IX n° 112 - "existem dois tipos de comportamento: o reativo e o assertivo. O comportamento reativo pode ser subdividido em agressivo, como reação ao sentimento de raiva; passivo, como efeito  do medo e da tristeza, expresso na atitude de fuga ou desistência; passivo-agressivo, o comportamento da manipulação do meio ou das pessoas, em resposta ao sentimento de medo associado à raiva; e assertivo, quando é a atitude do adulto centrado que se posiciona diante do mundo consciente da sua verdade e ao mesmo tempo posiciona essa verdade perante os outros. É o indivíduo que está consciente do que está sentindo, vendo,  percebendo e fazendo. Está consciente do que está dentro e fora de si e escolhe que atitude tomar. Age  orientado pelos princípios da integridade, honestidade e verdade. A assertividade vem associada à proatividade e à ética do caráter. A reatividade, por sua vez, nada mais é do que a expressão inconsciente da reatividade aos estados internos dos sentimentos básicos da raiva, do medo e da tristeza, que fazem parte da natureza humana, assim como os comportamentos  reativos e assertivos".

Quando pensamos que desde o momento de nossa concepção, passando pelo nascimento, registramos na memória as experiências vivenciadas, somos levados a nos perceber como seres predominantemente reativos e só, eventualmente, assertivos. E quais são os sentimentos e sensações mais frequentes que resultam das interações com o outro? Dentre tantos, destacamos felicidade, ódio tristeza, alívio, alegria, indiferença, culpa, inveja, raiva, decepção etc. Intencionalmente, não incluímos o amor nesta lista por não se tratar de um sentimento (veja artigo específico neste Blog).

Ao ampliarmos a compreensão acerca dos fatores que ditam nossos comportamentos, avançamos no processo do autoconhecimento e melhoramos a consciência que temos de nós próprios e também da outra pessoa. A consequência esperada de tudo isso será uma maior disposição para o exercício de atitudes assertivas, visando a mudanças significativas nos relacionamentos. Com novos e melhores comportamentos, podemos afirmar que as mudanças sonhadas no mundo exterior devem ser precedidas por mudanças em nosso mundo interior. 

Nas amáveis palavras de Katayama, "todo ser humano tem em si a bondade, o amor e a compaixão. E quando as manifestamos, a realidade externa se transforma. Perceba que uma pessoa alegre e bondosa cria um ambiente onde o relacionamento que permeia é o respeito, a afetividade, o cuidado e o carinho. Essa pessoa, naquele instante, transformou a realidade externa, criando um novo ambiente. Perceba que o que impede a expressão de quem verdadeiramente somos são nossas experiências negativas registradas na memória como uma experiência passada que é eliciada e se manifesta no momento presente como padrão limitante, impedindo a livre expressão de quem somos".

Lembra-se de um  breve conceito de sabedoria? É converter em prática o conhecimento adquirido. O conhecimento que não é aplicado é como se não existisse. Tenho certeza de que você já sabe onde queremos chegar. Nossa única intenção foi contribuir para a diversificação de seus conhecimentos para a elaboração de sua autoanálise. Caso você se depare com alguma mudança pessoal específica ou com alguma pressão emocional de que não consiga gerenciar sem o suporte psicanalítico adequado, recomendamos a busca do que realmente pode ajudar você a ser mais feliz e, dessa forma, melhorar a qualidade dos relacionamento no ambiente que acomoda suas principais interações.


Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


Email: ramos.talentos@gmail.com
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sábado, 30 de janeiro de 2016

ÓDIO E CULPA DOS FILHOS



Quem atua na clínica psicanalítica jamais pode dizer que já escutou de tudo. Quando os filhos se referem aos pais, deslizam de um extremo a outro, desnudam suas almas e relevam um mapa  pontilhado de todas as impressões registradas ao longo da convivência, desde a fase intrauterina até às últimas interações. Algumas dessas impressões beiram à idolatria e outras, às chamas mordazes dos ressentimentos.

Há quem se queixe do colo que pertenceu somente aos irmãos e continuam, mesmo adultos, obcecados, infantilizados e errantes em busca do colo que não encontram. Esses filhos tendem a desenvolver sentimentos de desamparo, auto-rejeição, mediocridade, insegurança, ciúme, fracasso etc. Podem apresentar, ainda, sintomas de inadequação e social por causa de sua  agressividade aparentemente imotivada. Você é perfeitamente capaz de imaginar - só de imaginar - o que um filho, nessas condições, sente pelo pai ou mãe que o privou das indispensáveis expressões de carinho, afeto e proteção. Porque sentir, é um atributo exclusivo de quem vivencia uma experiência.

Outro grupo de filhos sofreu, ou ainda sofre, verdadeiros bullyings  dentro de casa, perpetrados pelos pais, através de distintas formas de ameaças - chantagens emocionais, barganhas morais, omissão de socorro, violência física ou psicológica e indiferença generalizada. Muitos desses filhos, às vezes de pais já falecidos ou separados, acreditam que as pessoas os estão  censurando a todo momento e preferem o mínimo possível de exposição para se prevenir de punições decorrentes de eventuais falhas que porventura venham a cometer.

Esses filhos, normalmente, responsabilizam o pai (ou mãe) pelas sucessivas vezes que são infelizes no amor; pelo medo de tentarem oportunidades no mercado de trabalho e fracassarem; pela inibição de se tornarem pais e repetirem tudo o que abominam em seus genitores, bem como por todos os desatinos e decepções já experimentados. Como resposta inconsciente a tudo isso, ouvimos relatos de filhos que esquecem o aniversário dos pais. O dia de finados também só é lembrado  muito tempo depois. Só de uma coisa não esquecem: o desejo de ver esses pais sempre distantes - "conviver com meu pai é um verdadeiro inferno. Vivo como se não tivesse pai", recorda determinada paciente. "Minha mãe faz de tudo para me anular e me controlar", queixa-se outra. " Meu pai nunca perdeu uma chance de me humilhar na frente de meus amigos e afirmar que era um incapaz", desabafa um paciente atormentado pela crueldade do pai.

E, agora, o que fazermos diante desse ambíguo universo relacional de ódio, culpa e amor?É inegável o conflito de quem tem que hospedar dentro de si estados tão contraditórios, em que filhos, ao mesmo tempo, amam seus pais mas  odeiam o tratamento que recebem e, ainda, se culpam pelo ódio que sentem? Como atravessar esse pântano de sofrimento? Antes que compartilhemos uma fórmula bastante eficaz para a superação desses embates e dores, precisamos esclarecer que o processo de aprendizagem resulta da observação e da repetição. Ora, se o equívoco dos pais dá-se por conta do que aprenderam como o jeito certo de educar, é indispensável que os filhos compreendam a situação, formulando dois questionamentos: primeiro, investigar como seus pais foram criados; segundo, perguntando a si mesmos - será que eu, passando o que eles passaram, não agiria do mesmo modo? 

Respostas sinceras e objetivas a essas indagações contribuem, efetivamente, para o desenvolvimento de posturas de compreensão do comportamento desses pais, que se enganam quando agem esperando acertar, mas comentem estragos reparáveis somente através de um excelente processo psicanalítico. Nesse caso, pais e filhos necessitam de psicoterapia para que a felicidade da família possa florescer e os pais, antes odiados e causadores de tanta culpa, transformem-se em admiráveis ídolos de seus filhos.

Ao final da concepção deste artigo, dividimos com você a imensa e frequente alegria que vivenciamos em nosso consultório, sempre que conseguimos converter o véu cinzento do ódio e da culpa no esplendoroso brilho da reconciliação.



Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


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Fortaleza - Ceará - Brasil