domingo, 10 de maio de 2015

OLHAR MATERNO



Não me incomodo se, nesta homenagem às mães, componentes inovadores sejam escassos ou pouco inflamem o hemisfério racional da maioria de nós. É proposital. A mãe, personagem central deste dia, não funda sua mobilidade na trilha neural que pensa, analise, critica, julga ou condena.  No contrafluxo de tudo isso, a mãe simplesmente sente, acolhe, compreende, protege porque projeta no filho um amor que escapa a todos os critérios de racionalidade.

Em cada retina, há cerca de 120 trilhões de foto-receptores que libertam moléculas neurotransmissoras a uma taxa que é máxima na escuridão e diminui, de modo proporcional, com o aumento da intensidade luminosa. Misteriosamente, o olhar materno prefere contemplar o filho através da escuridão, porque, assim, sua acuidade visual enxerga apenas as qualidades de sua descendência. É no escuro, que a perfeição das mães se projeta em seus filhos, tornando todos eles pessoas imunes a qualquer tipo de impureza.

Esse amor, tão generoso, é potencializado no coração da mulher e se manifesta assim que uma nova vida germina em seu ventre. É natural que  a criança oriunda desse sacrário se sinta merecedora de uma atenção incondicional, como se fosse uma rainha cercada de pessoas predestinadas a servi-la. Nessa fase, a criança desenvolve um normal e necessário estado de narcisismo, expresso na onipotência de manter tudo sob seu controle, bastando simplesmente chorar. A pujança desse reinado perdura enquanto a criança percebe que ela e a mãe são a mesma pessoa, ao mesmo tempo em que a mãe entende que precisa renunciar a si mesma para viver os horários e todas as demandas da criança. Ocorre, nessa espécie de fusão, uma verdadeira simbiose materno-filial.

O império das emoções que vincula mãe e filho parece congelar o tempo para os eternos "filhotes". Hoje, compreendo porque minha avó, após reencontrar um filho que não via há vinte e seis anos, disse: "Meu filho, tenho a impressão que você continua crescendo"; mães que afagam os cachos grisalhos de seus filhos ainda sentem a maciez e o cheirinho dos cabelos de uma criança; se um filho adoece, a mãe logo questiona: "Não seria melhor que fosse eu?"; quando chora a prisão de um filho, é porque está disposta a trocar de lugar com ele. E, em casos extremos de execução de filhos, ela não hesitaria em dizer que já viveu bastante e que poderia morrer para salvá-lo.

Sinto-me feliz por não apresentar nenhuma novidade acerca da maternagem, uma vez que a sacralidade de sua missão absorveria qualquer inspiração que ousasse acrescentar um verbete sequer com o objetivo de esclarecer a misteriosa ligação entre mãe e filho. Sendo assim, resta-me selar esta mensagem com o pensamento a seguir: "Deus, não podendo estar em toda parte, criou a mãe". 

Feliz Dia das Mães!



Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


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Fortaleza - Ceará - Brasil