sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O " X" DA VIDA





Ao escrever este artigo, necessitei de acuidade especial na escolha de palavras que minimizassem a faixa de interpretações destoantes dos propósitos imaginados. Enquanto resgato da memória o traçado do que será escrito, considero ético informar que o tema em questão resultou de uma das muitas sessões de análise didática que tive com meu então analista,  e dileto amigo, Dr. Mário Santos. 

A figura, acima, mostra que o "presente" é o único e dadivoso momento em que podemos agir. Por isso, é chamado de presente. É o agora carregado de possibilidades e o instante singular para expressão do sujeito. A partir do agora, percebemos que o "passado" é o presente já vivido. E o "futuro", o presente projetado. A conclusão cronológica a que chegamos é que passado e futuro são tempos inacessíveis para as ações de todos nós.

Se não podemos agir no passado ou no futuro, de que modo eles podem nos influenciar? Ora, toda experiência passada constitui o nosso universo de conhecimentos e seus respectivos  condicionamentos - religião, cultura, sistemas políticos, meio ambiente etc - ou seja, nossas memórias. Vivemos de lembranças felizes, tristes, apáticas ou traumatizantes. Do ponto de vista psíquico, o que somos além de memórias? E todas elas, por serem passadas, são mortas. Não há como vivê-las novamente. Então, somos feitos de algo morto? O que você acha?

Que grandes ensinamentos podemos tirar dessas reflexões? Os conhecimentos jamais devem restringir-se ao modo como foram adquiridos, mas aperfeiçoados, ressignificados, praticados e compartilhados. Quanto às memórias, principalmente aquelas pigmentadas de conteúdos traumatizantes, deveriam permanecer como um passado morto. No entanto, podem representar sérios transtornos quando as ressuscitamos e passamos a vivenciá-las novamente. Esse sofrimento tanto pode originar-se do inconsciente quanto do consciente. Independentemente de onde emana a dor, seguir a máxima psicanalítica que diz que "quando a boca cala, o corpo fala; e quando a boca fala, o corpo sara" reacende o alívio que traz de volta a experiência restauradora do sorrir.

Quando um sofrimento percorre o nosso passado, sem o devido tratamento no presente - tempo de ação - projetaremos no futuro a mesma dor. Daí, advém a ilusão de que sofrer é um destino, uma sina, uma condenação. O sofrimento, como a felicidade, é um atributo inerente à existência humana. "Em quase toda a minha vida sofri demasiadamente. Pouco me lembro de momentos felizes", relatam muitos de nossos pacientes. Sócrates aponta o "meio" como o fiel da balança, o ponto de equilíbrio. Porém, é possível direcionarmos nossa trajetória para a bússola da felicidade e administrarmos as tristezas inevitáveis como cotas que farão o contraponto ao sabor especial daqueles momentos que gostaríamos que durassem indefinidamente.

Já tinha encerrado a produção deste artigo, inclusive o publicado, quando fui agraciado com a seguinte frase de Chico Xavier: "Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim"


Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


Email: ramos.talentos@gmail.com
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Fortaleza - Ceará - Brasil