sábado, 25 de julho de 2015

PSICANALISTA: SUPORTE DO INSUPORTÁVEL






Eu sofro, tu sofres, ele sofre. Isso se conjugarmos o verbo apenas no singular. No plural, o sofrimento alcança o coletivo - nós sofremos. A natureza democrática do sofrimento consegue reunir em uma mesma arena todas as pessoas,  alternando apenas o momento e o tempo de permanência de cada uma. O fato é que ninguém pode dizer: "nesta arena não entrarei".

O que encontramos numa arena de leões? Provavelmente, leões sonolentos, saciados ou animais despertando morrendo de fome. Embora os leões também apresentem estados emocionais diferentes, temos que nos lembrar que são todos leões, potencialmente devoradores. Diante dos felinos que dormem, nossa maior ansiedade é descobrir o que fazer quando os bichinhos despertarem. 

Notem que, enquanto temos forças para encontrar uma alternativa que nos permita enfrentarmos os problemas, mantemos o controle da situação.  Nesse caso, não ocorre nenhum trauma. Todavia, sozinhos, diante de um selvagem faminto, sem suporte algum, é natural que percamos o controle da situação. É quando se instala o trauma. Sinais de impotência, sensação de abandono, total desesperança, dentre outros indícios de que nada restará, compõem um quadro típico de experiências traumatizantes, com interferências severas na vida do sujeito.

Se todos nós, em medidas distintas, sofremos, por que investimos recursos inestimáveis para evitar quaisquer das muitas facetas do sofrimento? Freud ilumina essa questão ao ponderar acerca do que chamou de pulsão de vida e pulsão de morte. Queremos viver e ser felizes (pulsão de vida). Do mesmo modo, nem pensamos em economia na hora de eliminarmos fatores que ameaçam nossa segurança. No entanto, nossa busca suprema não é o fim do sofrimento, mas vivenciarmos a felicidade. Ou seja, alinhado com Freud, o ideal de vida não é chutar o desprazer, mas abraçar o prazer.

Ao transmutarmos o simbolismo da arena leonina para o nosso cotidiano, nos deparamos com situações tão angustiantes, tão desesperadoras, que uma aparente cegueira temporária pode ocultar qualquer possibilidade de solução. Ou, pior, quando enxergamos alguma alternativa, optamos por aquela capaz de provocar os maiores estragos em nossa vida. Podemos até comparar uma situação extrema, como essa, onde nada parecer ter jeito, com os sinistros generalizados de um veículo, por exemplo. Diante dos prejuízos, aproveitando ainda o exemplo do veículo, resta ao proprietário a esperança de que o seguro reconheça a perda total e garanta um novo carro. Se o proprietário houver contratado um seguro, é claro.

Se considerarmos que todos nós estamos expostos a experiências insuportáveis, o mais prudente é buscar o suporte profissional - emocional e tecnicamente qualificado  para lidar com o sofrimento do outro - com o objetivo de preservar o nosso bem maior, a vida, e restaurar as infinitas possibilidades de sermos felizes. 

Não podemos negar que a vergonha e o  preconceito, muitas vezes, nos fazem  adiar a procura por ajuda. Todavia, convém lembrarmos que a diversidade e a individualidade dos dons fortalecem determinadas pessoas para amparar aqueles que necessitam. No exercício da Psicanálise, permanecemos 24 horas conectados com quem está tentando atravessar o pântano do sofrimento. E ninguém, melhor do que nossos pacientes,  podem validar o que estamos afirmando. É por isso que reputamos inteligível afirmar: O Psicanalista é o suporte do insuportável.



Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


Email: ramos.talentos@gmail.com
Av. Santos Dumont, 847 - Sala 303 – Aldeota
Fortaleza - Ceará - Brasil