domingo, 7 de maio de 2017

FRONTEIRAS DA SATISFAÇÃO


Com o que você está satisfeito? E o que deixaria você satisfeita? Já pensou em interferir no que vem comprometendo sua satisfação? Quando pesquisamos os étimos da palavra "satisfação", encontramos a explicação de que se trata do pagamento de uma dívida. Mas, quem é esse devedor e o que nos deve?

Tudo o que transferimos ao outro caracteriza a formação de um ativo, de um crédito, e a consequente contrapartida de um passivo, de um débito. Para regular o sistema de débito e crédito, existe  a inexorável lei do equilíbrio que se considera aplicada sempre que alcança a medida da justeza, da exatidão, da precisão e da conformidade. Bons exemplos disso são a justeza da roupa, da casa e o botão, da tampa e o frasco, etc. O que excede as fronteiras às vezes sai do controle.

Portanto, aquele que dá merece e espera receber. Se, nessa relação, ocorrer um desequilíbrio, florescerão o sentimento de exploração, a expectativa de cobrança, a angustiante sensação de endividamento e, pior, o pavor do iminente distanciamento que vai separando as partes implicadas. Quando isso acontece, o credor sente-se frustrado e profundamente insatisfeito dentro do jogo relacional. E o devedor, o que poderá sentir?

Já que estamos discorrendo sobre satisfação/insatisfação, talvez seja oportuno particularizar, dentre tantos, os significados desses dois verbetes. Atribuiremos, portanto, a satisfação a ideia de contentamento, de querer mais e de desejar a continuidade. Por outro lado, a insatisfação denota a noção de que se atingiu o limite. Chega. Forçar o prosseguimento seria pura insensatez.

Como aplicar essas noções em nosso cotidiano? É muito simples. Durante as refeições, qual o melhor momento para encerrá-las? É quando estivermos satisfeitos, ou seja, ainda querendo comer. Recomenda-se que só devemos saciar cerca de 80% de nossa fome. Isso implica sairmos da mesa ainda com vontade de comer. "Quem muito consome, muito será consumido". Essa orientação poderá ser adaptada aos nossos relacionamentos com o outro, com nós próprios e até com bandeiras ideológicas, religiosa, filosóficas, etc.

A imposição do equilíbrio não é uma questão de escolha. Se observarmos a vida, tudo é organizado em sistemas - sistema respiratório, digestório, circulatório, familiar, social, financeiro, de trânsito, político, planetário, etc. Qualquer falha ou desrespeito ao funcionamento desses sistemas poderá causar consequências imprevisíveis. Basta pensarmos em um coágulo no cérebro, em uma obstrução nas artérias do coração, numa traição, em uma agressão física ou moral, ou numa ferida ética, por exemplo. Os sistemas precisam de liberdade para fluir, porque tudo é energia e esta, parada, estática, nada produz.

Achamos que esses fundamentos justificam os propósitos do presente artigo e nos permitem afirmar que a nossa satisfação depende do nível de respeito que o outro tem por nós, do mesmo modo que a satisfação do outro consiste no respeito que lhe conferimos. Aliás, a palavra respeito indica, em sua origem latina: re - "de novo", mais specere - "olhar", ou seja, olhar de novo. A ideia é de que algo merece um segundo olhar e tem qualidades que levam a uma atitude de consideração e reverência.

Ao verificarmos que alguns sistemas, em que estamos diretamente inseridos, estão nos causando insatisfações acima de nossa capacidade de resolução, irrompe-se a imperiosa necessidade de suporte especializado que nos conduza de volta aos domínios da satisfação e da felicidade que tanto almejamos.


Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


Email: ramos.talentos@gmail.com
Av. Santos Dumont, 847 - Sala 303 – Aldeota
Fortaleza - Ceará - Brasil