quarta-feira, 9 de maio de 2018

REAL VERSUS NÃO-REAL


Poderíamos iniciar este artigo afirmando que o oposto de real é Irreal. Nem sempre. O conhecimento da "coisa", do "objeto", do "sem nome" somente é possível quando criamos uma representação do que chamamos de real (coisa, objeto...) e lhe atribuímos um nome. É a partir dessas representações que conseguimos estabelecer a comunicação com o outro. 

Se alguém chega numa comunidade, bem primitiva, e faz uma referência a um  pendrive, por exemplo, onde todos desconhecem tal objeto, sem essas representações, não haverá entendimento algum. 

Como compreendermos, então, o não-real? Trata-se, exatamente, da representação do real. Consideremos a perda de um ente querido. Isso é o fato, o concreto, o acontecimento. A intensidade do sofrimento que decorre dessa experiência dependerá da maneira como o sujeito interage com a representação dessa perda. 

Algumas pessoas, diante de situações aversivas, racionalizam, mantêm o controle das emoções e, assim, conseguem redirecionar a vida para um curso de certa normalidade. Outras, porém, consideram que nada mais faz sentido, que a vida acabou, até afundarem em um obscuro quadro depressivo. Esse estado tende a piorar se a pessoa já experimentou situações igualmente adversas.

Esses dois tipos de reações demonstram que o sofrimento humano advém do não-real, e não da realidade que nos rodeia. Isso ocorre porque pensar equivale a ser. Lembrando que o pensamento gera sentimentos e estes produzem sensações, que são expressas através de nossos cinco sentidos. Se pensamos, por exemplo, que somos alguém muito  querido, sentiremos enorme alegria e a consequente sensação de bem-estar. Imagine, agora, o oposto.

Como podemos nos beneficiar com esses conhecimentos? Os benefícios são grandiosos e transformacionais. O real é rígido, concreto, imutável. Não nos é possível alterar uma morte que ocorreu, um registro de desemprego ou o rompimento de um grande amor. Isso é fato consumado. Então, onde agirmos? No não-real, que é plástico, maleável, flexível moldável. Se não podemos mudar o que está fora de nós, onde está o real, dependerá de nós modificarmos o que se processa dentro de nós. 

Pessoas  padecentes de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) transitam em um ambiente psíquico essencialmente não-real. Mesmo assim, suas dores refletem um realismo equivalente às aflições oriundas do real. Como o não-real é uma estrutura mental criada a partir das conexões com o outro mais próximo, geralmente pais ou cuidadores, o tratamento do aludido transtorno consiste no empenho do par analítico (analista e analisando) para alterar essas estruturas patogênicas.

Já que nossa mente é capaz de hospedar visitantes indesejáveis, está também apta a negociar com tais hóspedes a desocupação do espaço para futuras hospedagens, preferencialmente, mais amistosas. Não conseguindo fazer isso sozinho, o amparo profissional abre portas para estados emocionais melhor qualificados.



Ramos de Oliveira
Psicanalista Clínico
Professor de Psicanálise e Palestrante


Email: ramos.talentos@gmail.com
Av. Santos Dumont, 847 - Sala 303 - Aldeota

Fortaleza - Ceará - Brasil